segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Lixão: Até quando?


Uma questão de sobrevivência. Afinal, quem iria escolher um lixão para morar? Só mesmo diante da necessidade. Por este motivo, alguns moradores de rua abandonaram as calçadas, onde passavam o dia pedindo esmola, para catar material reciclável. Descobriram um meio de ganhar dinheiro sem precisar ficar esperando que alguns poucos, sensibilizados e cheios de boa intenção, dessem um trocado e saíssem dali pensando que o gesto tivesse resolvido o problema.


A decisão de sair da rua e morar no lixão sugere uma pergunta. O que é pior? Por um lado, não será preciso continuar na dependência da esmola que mais atrapalha do que ajuda. Por outro, as péssimas condições do lugar colocam em risco a saúde dos que ali estão. Pois é, e o que fazer? Falta de conhecimento por parte de poder público não é, até porque os governantes sabem há muito tempo que o lixão não é a melhor forma para tratar o lixo, mas os aterros sanitários. Além disso, exemplos não faltam de como organizar grupos de catadores em associações e cooperativas, sem precisar que eles permaneçam lá dentro.


A reportagem do CATADOR foi conferir de perto a realidade do lixão de Nazaré da Mata, no último dia 24 de agosto. Para chegar até o local, o caminho é estreito, esburacado, cheio de lama. Em alguns trechos, o carro quase não passava. Um pouco distante do centro do município.

Chegando lá, além do que se esperava ver, o lixo, é lógico, nada de muito diferente de outros locais como aquele. Dois jovens sentados, descansado depois de almoçar, e um senhor trabalhando. Era o seu Damião e dois dos seus filhos. Ao todo, são dez. “Hoje moro sozinho aqui, meus filhos passam o dia trabalhando e depois voltam para a casa para ficar com a mãe. Às vezes eles dormem comigo, mas não é sempre”, destacou seu Damião. Do lixão até o centro, os filhos caminham quase uma hora para ir e uma hora para voltar. Para abrigar os filhos, construiu oito casas de madeira. “Cada um tem seu cantinho quando vem aqui”.

Seu Damião explicou que, ao longo dos 14 anos que vive no lixão, foi possível comprar uma casa no centro para que a sua companheira tivesse uma moradia mais digna. “De vez em quando, vou em casa. Mas não posso abandonar meu ganha pão”, frisou.
Como o seu Damião, existem outros espalhados pelo Brasil afora. Entretanto, muitos desconhecem que pessoas vivem nessas condições. Outros, mesmo sabendo, ignoram. Fecham os olhos, tapam os ouvidos e o nariz. Não querem nem saber que existem famílias ainda morando nos lixões.