terça-feira, 28 de agosto de 2007

Questão de sobrevivência


Há 14 anos morando dentro do lixão, Damião Rafael da Silva, 63 anos, abandou o emprego de cortador de cana, nos engenhos do município de Nazaré da Mata, para trabalhar como catador de materiais recicláveis. Ele garante que lá, apesar das condições precárias, consegue ganhar mais dinheiro para sustentar a mulher e os dez filhos. Com suor no rosto e muito bom humor, Damião concedeu a entrevista durante uma pausa no trabalho.


Quando foi que o senhor decidiu morar aqui no lixão?
Se me recordo bem, foi em 1995. Assim que abriram este lixão em Nazaré da Mata. Vim para cá, e como até agora não apareceu nada melhor, vou ficando por aqui.


O que o senhor acha de viver dentro de um lixão?
Não é bom. Levo uma vida sacrificada, mas é melhor do que trabalhar cortando cana para senhor de engenho. Era muito explorado e ganhava pouco.


Para quem o senhor vende o material coletado?
Para deposeiros daqui de Nazaré e dos municípios de Carpina e Araçoiaba. Tem uns que trabalham direito, mas já levei vários calotes. Levaram o material, mas nunca vi a cor do dinheiro.


E mesmo assim dá para tirar um bom salário?
A média é R$ 600 reais. No período de chuva tem uma queda e no verão a renda sobe um pouco. Mas, para quem vive no interior, acho um bom salário. O ruim é porque tem o risco de pegar doenças.


E como o senhor cuida da saúde?
É difícil porque não uso material de proteção. A única coisa que tenho para trabalhar é um carro de mão, uma peixeira e as próprias mãos. Graças a Deus que até agora nada grave me aconteceu.


O senhor pensa em deixar o lixão?
Não sei. Não vejo essa possibilidade. Já estou velho demais.


O senhor já ouviu falar em associações e cooperativas de catadores?
Uma vez, vieram umas pessoas da Paraíba para cá. Conversaram comigo sobre esse assunto, mas não voltaram mais. Sei pouca coisa. Se for pro bem, até acho uma boa idéia, só não acredito muito que vá dar certo.

Seminário discute lei que regulamenta Coleta Seletiva




Representantes do FLIC e de repartições públicas federais participam de encontro para implementação do decreto






Regulamentar a coleta seletiva nas repartições públicas federais e repassar o material recolhido para as cooperativas e associações de catadores. Isso é o que diz a lei federal 5.940/96. Com o propósito de debater a implementação do decreto, a secretária de Articulação Institucional e Parcerias do Ministério de Desenvolvimento Social, Kátia Campos, esteve no Recife e se reuniu com cerca de 80 representantes dos mais diversos órgãos federais. O encontro ocorreu no dia 08 de agosto, na sede do CREA-PE.

De acordo com a secretária, o decreto tem como objetivo gerar trabalho e renda para os catadores por meio da coleta seletiva nos prédios públicos federais. A iniciativa ainda vai contribuir na redução do custo da coleta convencional nos municípios, além de aumentar o tempo de vida útil dos aterros sanitários e a economizar a matéria prima através do aproveitamento dos resíduos sólidos. A estimativa do governo é a geração de 30 mil postos de trabalho a partir da criação de novas cooperativas de catadores.

A lei, instituída no dia 25 de outubro de 2006, ressalta que cada repartição pública tenha uma comissão para a Coleta Seletiva. O grupo responsável terá que enviar um relatório, semestralmente, ao Comitê Interministerial, informando os resultados alcançados. “Precisamos contar com a colaboração dos funcionários das repartições para colocar em prática o que preconiza a lei. Não temos muitos recursos, mas temos que usar a criatividade na hora de desenvolver esse trabalho”, ressaltou Kátia Campos.

Segundo a coordenadora do Programa de Educação Previdenciária do Instituo Nacional de Seguridade Social (INSS-Recife), Lindinalva Amorim, o decreto permite a inclusão social dos catadores e o fortalecimento das cooperativas e associações. “No INSS, como um todo, já existe um trabalho significativo na área. Em Recife, estamos implantando a comissão da Coleta Seletiva. A minha crítica é em relação aos recursos, afinal, precisamos de estrutura”.

Catadores se reúnem em Abreu e Lima


A Plenária Itinerante do FLIC-PE, realizada em Abreu e Lima, no último dia 26 de setembro, contou com a participação de cerca de 200 participantes. Dentre eles, catadores de diferentes municípios do Estado. Na visita, foi possível conhecer de perto o Projeto Reciclação, que uni a Associação Erick Soares e a Cooperativa Coreplast.

Durante a plenária, os participantes puderam conhecer a nova coordenação colegiada, eleita no mês julho. Cada coordenador se apresentou e se colocou a disposição para fortalecer o trabalho desenvolvido pelo FLIC.

FLIC Sabendo

O Pão de Açúcar da Rosa e Silva está recebendo óleo de cozinha para reciclagem. É só armazenar em um recipiente e entregar lá no posto de coleta.
O I Seminário da Construção do Plano de Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos (PGIRS) foi realizado, no dia 10 de agosto, nos municípios de Amaraji e Primavera. O mesmo evento aconteceu em Escada, no dia 17. O seminário serviu para a formação do consórcio que será responsável pelo gerenciamento do aterro sanitário que servirá as três regiões.
Uma iniciativa: PROMATA.

Bacia do Moxotó
O programa de Educação Ambiental e PGIRS estão sendo desenvolvidos nos municípios de Custódia, Sertânia, Tacaratu, Manari, Inaja e Ibimirim, no âmbito do projeto “Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos na Bacia do Moxotó”, que é parte integrante do Programa de Revitalização da Bacia do São Francisco”. Um convênio entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma) e Ministério do Meio Ambiente (MM).

No último dia 01 de agosto, integrantes do FLIC-PE estiveram em Arcoverde para participar de um seminário ligado ao Projeto Fortalecimento dos Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Arcoverde e Parcerias Institucionais. Participaram do evento os coordenadores do FLIC, Rodolfo Aureliando, Lindaci Maria, José Cardoso e Robson Campelo.

Fóruns discutem implantação de CVTs

As coordenações do Fórum Lixo e Cidadania de Pernambuco (FLIC-PE), do Fórum da Economia Popular Solidária (FEPS) e do Fórum Estadual de Reforma Urbana (FERU) se reuniram, no dia 18 de agosto, no Centro Josué de Castro, para discutir o projeto do Governo Estadual que pretende implantar Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs). Dentre as propostas, a criação de núcleos para formação e profissionalização de catadores e costureiras.

De acordo com a coordenadora do FLIC-PE e do FEPS, Ana Dubeux, o projeto precisa ser analisado com muita cautela. “O modelo proposto corre o risco de cair no sistema de produção da economia de mercado devido a sua metodologia. Eles sugerem a formação de 500 pessoas por núcleo. Na Economia Solidária quanto menor o número de participantes, melhor o resultado”, pontuou.

Os coordenadores ainda destacaram que os beneficiados pelos CVTs precisam participar do processo de planejamento. “Antes de executar um projeto, temos que consultar os catadores e as costureiras para saber se eles têm interesse”, destacou um dos coordenadores do FLIC, João Renato Amaral. Para dar continuidade às discussões, foi criada uma comissão inter-fóruns, contando com a participação de dois representantes de cada fórum, com o propósito de articular uma ação conjunta.Assim será possível fortalecer o posicionamento diante do modelo proposto pelo Governo do Estado.