terça-feira, 31 de julho de 2007

Galeria de Reciclados na Fenneart

Pela primeira vez, feira dedica espaço exclusivo aos artesãos ecológicos

A Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenneart), ao longo desses oito anos de edição, sempre trouxe para o evento artesanatos ricos em beleza e criatividade. Obras de artistas vindos de diferentes partes do Brasil e de outros países. Contudo, pela primeira vez, dedicou um espaço exclusivo para o talento daqueles que transformam
"lixo" em arte.

A Galeria de Reciclados concentrou cerca de 50 trabalhos, dos quais, três foram escolhidos por uma comissão julgadora e um pelo voto popular, por meio de urna eletrônica. De acordo com os organizadores da Fenneart, a Galeria de Reciclados surgiu da necessidade de provocar uma reflexão, tanto nos artistas quanto no público, de como cuidar do lixo. "A Galeria de Reciclados não é apenas esta exposição, mas uma série de atividades. Tudo isso com objetivo de incentivar uma gestão responsável dos resíduos sólidos", declarou o curador da galeria, Ticiano Arraes.
Sendo assim, o evento contou ainda com outras ações. Todos os dias, um grupo de atores passeava pela feira, apresentando de forma bem humorada o conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). A Coleta Seletiva também foi realizada.

Coletores foram espalhados por toda feira, separando o lixo úmido do seco. A Cooperativa de Catadores Profissionais do Recife (Pró-Recife) ficou responsável pelo recolhimento dos materiais. "Tivemos um excelente resultado. Os organizadores da Fenneart já sinalizaram positivamente para que no ano que vem a parceria continue", declarou o presidente da Pró-Recife, José Cardoso.

FLIC Sabendo

  • O Seminário Pernambucano de Catadores acontece nos dias 24 e 25 de agosto, na Região Metropolitana do Recife. Participam do encontro cerca de 80 catadores de diferentes municípios do Estado. Uma iniciativa: FLIC-PE, MNCR, Avina, ASPAN, Sinaenco e Metalic.

  • O Seminário de Resíduos Eletro-eletrônicos acontece nos dias 27 e 28 de setembro. O objetivo do evento é discutir o avanço tecnológico e as suas conseqüências em relação ao excesso de lixo eletrônico produzido nos últimos anos. Uma iniciativa: ASPAN, Avina, Cesar e Iecom.

  • O Projeto Reciclar será apresentado no Programa AÇÃO (Rede Globo), no dia 04 de agosto (7h30), com reprise no dia 09 (7h). O Canal Futura também retransmite no dia 09 (0h30). O programa mostra a parceria entre a Natura e a Cooperativa Pró-Recife.

Melhor solução para tratar o lixo causa polêmica

Os aterros sanitários, apesar de eficientes, ainda preocupam catadores

A implantação dos aterros sanitários é um importante desafio para a erradicação dos lixões. Contudo, apesar da importante iniciativa, poucos gestores públicos trabalham para que isso aconteça.

Na plenária do mês maio, os participantes tiveram a oportunidades de conhecer experiências de aterros que estão em processo de construção na Região Metropolitana do Recife. O da Muribeca já em andamento, construído numa área de cinco hectares. O tempo de vida útil está previsto para 15 anos.

O Aterro é privado, administrado pela empresa S/A Paulista (Estado de São Paulo). De acordo com o Engenheiro da Obra, Fábio Lopes, a construção atende a todos os pré-requisitos e foi projetado para receber resíduos da classe 2, que corresponde aos não perigosos. ”A implantação deste aterro é o resultado concreto da incompetência do poder público em cumprir com suas prerrogativas constitucionais”, criticou um dos coordenadores do FLIC, Bertrand Alencar.

A preocupação de muitas cooperativas e associações de catadores diz respeito ao processo de coleta e triagem do material. “É preciso saber como os catadores vão ser integrados depois da implantação dos aterros. A empresa privada recebe por quantidade de lixo recolhido. Tememos que não seja feita a triagem correta do material e tudo seja jogado lá dentro. Assim, o trabalho dos catadores será prejudicado”, ressaltou o representante do MNCR, José Cardoso.

O Aterro Sanitário do município de Santa Cruz do Capibaribe, que está em processo de implantação, apresenta em seu projeto parcerias importantes com a associação de catadores. De acordo com o engenheiro da obra, Abelardo Eugênio da Matta, o trabalho em conjunto é desenvolvido desde 2003. “A parceria é crescente, sendo previsto as seguintes ações a curto e médio prazo. Fortalecer o vínculo da associação com o parque de feiras e desapropriar uma área vizinha ao aterro sanitário para a instalação de uma usina de triagem e compostagem” ressaltou. Ele ainda destacou que a prefeitura tem como objetivo viabilizar a construção de moradias para os associados em área já definida no Plano Diretor do Distrito Industrial do município, ora em fase final de estudo.

“No modelo aplicado em Santa Cruz do Capibaribe parece que há uma outra abordagem e que integra o catador ao processo de gestão dos resíduos sólidos no município. Esta certamente é a expectativa do MNCR e do FLIC-PE”, ressaltou Bertrand.

Governo de Pernambuco lança proposta para Catadores

Em três anos, o Governo do Estado de Pernambuco pretende deixar em funcionamento efetivo um Centro Vocacional Tecnológico (CVT) para atender 500 famílias de catadores. A proposta é que o espaço funcione como uma central de cooperativas e associações de catadores para o recolhimento de todo o material reciclável e, assim, vender diretamente para a indústria sem precisar dos deposeiros.

De acordo com o secretário executivo da Secretaria Especial da Juventude e Emprego, Paulo Figueiredo, os trabalhos vão começar no mês de agosto. Na primeira etapa será realizada uma pesquisa com os catadores não organizados, a fim de identificar o perfil dos profissionais. O segundo passo é a comprar de um imóvel e a capacitação. “O Estado terá a obrigação de estruturar e dar suporte, mas quer garantir a independência aos catadores. A proposta parece ambiciosa, mas sabemos que é muito pouco, diante da realidade que vemos”, frisou.

Para o representante do MNCR, José Cardoso, o Estado não deve concentrar ações apenas na Região Metropolitana, tendo em vista que o centro será instalado no Recife. “Muitas entidades no interior sofrem com o destino final do material coletado porque estão longe das indústrias recicladoras. Acabam vendendo para os deposeiros”, ressalto Cardoso.

Prefeitura do Recife e FLIC debatem regulamentação para a Coleta Seletiva

O Fórum Lixo e Cidadania de Pernambuco (FLIC-PE) foi convidado pela Prefeitura do Recife para discutir a criação de uma regulamentação para a Coleta Seletiva na cidade. Dentre os objetivos da proposta, que pretende ficar pronta até o final de agosto, é saber como inserir o catador no processo.

Já ocorreram duas reuniões, uma no dia 10 e outra no dia 20 de julho. O primeiro encontro serviu para que os integrantes do FLIC-PE conhecessem a proposta do departamento de Coleta Seletiva da prefeitura e pudessem analisá-la. O segundo teve um caráter mais dinâmico, com propostas mais objetivas.

Cada coordenador do FLIC-PE apresentou pontos importantes que podiam ser modificados na proposta apresentada pela prefeitura. “Uma questão fundamental é a retirada da empresa privada da Coleta Seletiva. Acredito que o catador pode ser capacitado e receber pelo trabalho”, destacou um dos coordenadores do FLIC-PE, Rodolfo Aureliano.
De acordo com o gerente da Coleta Seletiva da Prefeitura do Recife, André Penna, a participação da sociedade civil numa regulamentação como esta é muito importante. “Queremos ouvir a população para trabalhar de forma correta. O FLIC certamente vai nos ajudar neste processo”, afirmou.

RECICLAÇÃO: projeto fortalece trabalho de catadores


Em Abreu e Lima, duas entidades se unem e ganham força

A realidade da comunidade do Fosfato, em Abreu e Lima, era a seguinte: em uma mesma rua organizavam-se duas entidades. De um lado, a Associação Erick Soares desenvolvendo o trabalho dentro do lixão de Ihamã. Do outro, a cooperativa Cooreplast realizava a compra de plásticos para revender. O trabalho das duas gerava muito esforço, mas poucos resultados. A Erick Soares coletava cerca de dez toneladas por mês, no entanto, todo o material era vendido aos deposeiros. A Cooreplast conseguia coletar uma média de três toneladas por mês, contudo, o lucro era insuficiente porque também vendiam para os atravessadores.


Em 2006, uma iniciativa importante começa a transformar a vida dos catadores daquela região. Com o apoio da Incubacoop, projeto do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o projeto Reciclação passa a ser desenvolvido, unindo a Erick Soares e a Cooreplast com o propósito de fortalecer o trabalho das duas organizações, baseado na economia solidária, gerando mais renda para os profissionais envolvidos.

De acordo com o coordenador técnico de resíduos sólidos do projeto Reciclação, Robson Campelo, os moradores passaram a dar mais crédito ao trabalho desenvolvido pelos catadores. “Antes de realizar a coleta seletiva, fizemos um cadastramento porta-a-porta para que os moradores pudessem separar o lixo reciclável. No dia combinado, a gente ia buscar o material. Dessa forma, ganhamos a credibilidade da população”, destacou. Ao todo, são 26 profissionais envolvidos no Reciclação, sendo 13 da Cooreplast e 13 da Erick Soares.

A Incubacoop tem como papel dentro do projeto buscar parcerias e monitorar. Ao longo desses oito meses, as conquistas destacadas são: resgate da dignidade pessoal, aumento da produção (cerca de 22 toneladas por mês), venda de materiais para indústrias, entre outras. A principal dificuldade ainda é a falta de apoio do poder público. “A nossa meta é criar novos núcleos de catadores no município para o fortalecimento da rede e aprovação da renovação do projeto reciclação”, destacou Robson.














terça-feira, 3 de julho de 2007

Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo


Para muitos, a difícil realidade do dia-a-dia não pode ser modificada. No entanto, outros descobrem talentos mesmo vivendo nesta condição, como é o caso do artesão Josafá Manoel da Silva, 40 anos, que desenvolve artesanatos com sucatas de ferro. Na Fennearte deste ano, ele vai expor sua peça intitulada O CATADOR DE SOLUÇÕES na Galeria de Arte Reciclada. O evento acontece de 5 a 15 de Julho, no Centro de Convenções. Segue abaixo uma entrevista com o artista.

Como você iniciou este trabalho de arte com material reciclável?
A necessidade financeira. Trabalhava como metalúrgico, mas o que ganhava era pouco. Para sobreviver, tive que me virar fazendo outras coisas. Então comecei a trabalhar com sucata e descobri que tinha esse talento.


Que tipo de trabalho você desenvolve?
São esculturas feitas de sucata de ferro. Figuras que resgatam a cultura popular, provocam o questionamento sobre as questões ambientais, entre outras.


Quanto custa cada peça?
O valor mínimo que cobrei até hoje foi de R$ 3. O valor máximo, 1.450.


Onde você expõe seus trabalhos?
Não tenho um ateliê, uma sala específica para criar. Faço em casa mesmo. Exponho em feiras e eventos temáticos. Estou me preparando para a Feira dos 3R’3.


Você acha que as pessoas reconhecem o valor do seu trabalho?
Há três anos, eu confecciono os troféus do Festival de Teatro de Rua, promovido pelo Movimento de Teatro Popular de Pernambuco.


Como você se sente?
Muito grato com esse reconhecimento. Acredito que estou contribuindo com a sociedade. As minhas peças levam as pessoas a questionar sobre os problemas sociais.


Qual o trabalho que você fez e mais gostou?
É esta que vai concorrer a um prêmio na Fennearte. O catador de sonhos carrega um significado muito forte. A imagem retrata um catador tirando o mundo do lixo.

Prontos para o trabalho

Durante dois meses, os catadores da Associação dos Trabalhadores em Materiais Recicláveis de Belo Jardim (ATMR-BJ) foram capacitados para melhor desenvolver suas atividades. Temas como direitos e deveres, cidadania, meio ambiente, associativismo e cooperativismo, ecodesigner, entre outros, foram abordados. A oficina, que contou com a participação dos 25 integrantes da associação, encerrou no último dia 20 de junho.

De acordo com o sociólogo Glieldson Alves da Silva, um dos responsáveis pela capacitação, o curso contribuiu para fortalecer o espírito cooperativista, além de resgatar a auto-estima dos catadores. “Os assuntos discutidos vão servir não apenas para a o trabalho profissional, mas para a vida”, destacou.

Na avaliação de Glieldson, os catadores tiveram um bom desempenho durante o período de formação, observado no depoimento de cada um deles. “Os associados são muito atenciosos e têm um enorme desejo de que este projeto de vida dê certo. Isso é fundamental para que consigam o sucesso. Se eles conseguirem colocar em prática o que têm discutido nas oficinas, a vitória será certa. Mesmo sabendo que o caminho não é fácil”, afirmou.

Os integrantes da ATMR-BJ enfrentam sérias dificuldades, como a valorização da auto-estima, muito massacrada pela realidade de vida. No entanto, aos poucos vão reconhecendo as suas potencialidades, como a capacidade de aprender e repassar para outros.