sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Cada um carrega o dom de ser capaz!


Para encerrar a série de entrevistados do ano de 2007, O CATADOR presta uma homenagem a todos os catadores que ainda não estão organizados em associações ou cooperativas. De fato, eles ainda somam a maioria desses profissionais que estão espalhados em todo o país. Vivem explorados pelos deposeiros e sofrem com a falta de reconhecimento da sociedade. Porém, merecem todo o respeito pelo trabalho que desempenham.

Num rápido passeio pelas ruas do Recife, encontramos João Gomes dos Santos, 68 anos, que há seis trabalha como catador. Estava passando em frente ao Mercado de Casa Amarela quando o encontramos. Com muito bom humor e suor no rosto, contou um pouco da sua história. Morador do bairro de Nova Descoberta, Zona Norte, é pai de 22 filhos. Quando ainda era adolescente, deixou para trás o município de Limoeiro para morar no Recife. Serviu às Forças Armadas, trabalhou como vigilante, pedreiro, dentre outras atividades, mas a situação na capital não foi tão fácil como pensava. Diante das dificuldades, despertou para catação.

Quando foi que o senhor começou a coletar material reciclável?
Tem uns seis anos. Trabalhava como pedreiro, mas a situação apertou. Não aparecia mais serviço. Daí, tive a idéia de pegar uma carroça e sair por aí catando.

Qual o seu percurso durante a catação?
Moro em Nova Descoberta, mas prefiro catar no centro de Casa Amarela, já que é um bairro que tem um grande centro comercial. Também coleto no bairro da Macaxeira e Guabiraba. Uma vez fui até Camaragibe, mas não valeu a pena tanto esforço.

Que tipo de material lhe dá mais lucro?
Seria o ferro, mas a gente encontra muito pouco pelas ruas. Agora é o papelão que está me dando mais rendimento.

Para quem o senhor vende o material recolhido?
Vendo para um deposeiro. Sei que ele não paga um preço justo, mas ainda assim dá para tirar um salário mínimo por mês.

Já pensou em trabalhar em associação ou cooperativa?
Sim. Se eu fosse mais novo até que toparia, mas estou me aposentando e vou parar. Não tenho mais saúde para estar puxando uma carroça. Trabalhei com carteira assinada por muito tempo e ainda contribuo como autônomo para a minha aposentadoria.

A população reconhece o seu trabalho?
Muito pouco. Alguns separam o material em casa para eu pegar num dia combinado. Mas também tem muita gente que não respeita. Pensa que a gente é maconheiro e ladrão. Uns passam no carro xingando, dizendo que estou atrapalhando o trânsito. Uma vida assim não é fácil.

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